CAMILO !
CAMILO
Ano triste este! Mais um mês, mais uma perda, mais um pouco de nós que vemos partir.
O teatro, a revista, a comédia e o país amanheceram este domingo mais pobres! Camilo de Oliveira deixou-nos aos 91 anos.
Podia escrever sobre os muitos feitos pessoais e profissionais do pequeno e irrequieto ator da Figueira da Foz, mas não o vou fazer, vou apenas falar do que me lembro e sei!
Um homem com postura é o que todos, os que gostam e os que não gostam, destacam após a notícia do desaparecimento do ator.
Rigor, exigência e profissionalismo são muitas vezes confundidas com prepotência e motivo de desdém daqueles que preferem o que é fácil. Não quero com isto dizer que todos nós não pequemos e nos deixemos acomodar, mas segundo dizem o Camilo não o fazia! Para os seus pares Camilo de Oliveira era exímio na execução do seu ofício. Diz-se que o seu pai, ator de profissão, queria que fosse barbeiro, mas o entendimento de Camilo foi outro e o nome grande da Revista enveredou pelos mesmos trilhos percorridos pelos pais, ou não tivesse ele nascido literalmente no teatro. Acabaria por fazer a vontade ao pai alguns anos depois, ao celebrizar uma rábula num barbeiro ao lado do saudoso Artur Agostinho.
Nasceu em 1924 filho de uma "Inês de Castro" que de "esperanças" subia ao palco por dever!
E foi no palco que Camilo cresceu e se agigantou, quem ao teatro rumava ia ver Camilo, na peça X ou na peça Y, mas sempre porque Camilo lá estava.
Contracenou com os grandes: António Silva, Ribeirinho, Beatriz Costa e Ivone Silva. Fez parte do período áureo da Revista à Portuguesa e teve o prazer e a oportunidade de privar com alguns dos "monstros sagrados" da comédia nacional.
A televisão chegaria mais tarde e faria com que o trabalho de Camilo chegasse a todo o lado. Conhecemos-lhe os filhos, a namorada, a mulher, os empregados, as casas, a loja e até acompanhámos a sua estadia na prisão. A "caixa mágica" foi veículo para eternizar a genialidade de Camilo. Os mais críticos dizem que era "popularucho" e de piada fácil. E que mal tem isso? A piada deve ser genuína e colocada no momento certo, e Camilo fazia-o como ninguém, era "certinho e direitinho"!
Ao lado de Ivone Silva protagonizou uma das rábulas que ainda hoje reside no imaginário e na memória de grande parte dos nossos pais e avós. Os "Agostinhos" retratavam um Portugal que ainda se apoquentava com a política, e retratavam tão bem e de uma forma tão simples! Talvez façam falta "Agostinhos" nos dias que correm.
O funeral de Camilo está previsto para o dia em que a selecção nacional joga as meias-finais do Euro 2016. Certamente muitos portugueses vão estar sentados em esplanadas a beber umas cervejas e a comer uns belos caracóis, espero que ao menos se lembrem que "lá se foi o Caracol"!