Séries em Linha__ Downton, uma série com história...
Desde tenra idade que as histórias e as «estórias» sempre despertaram em mim uma curiosidade e um interesse aguçados, devo mesmo confessar que sempre fui ávido de história... não uma história qualquer, uma história com «H» grande! A história que poucos sabem, mas que todos deviam saber, falo pois da história mundial, e sim sou daqueles que entende que um estudo e uma reflexão aprofundados da história podem fazer um futuro diferente!
Em Setembro de 2010 chegava ao Reino Unido uma série de inspiração histórica que estava ainda longe de chegar a Portugal, de seu nome, Downton Abbey.
A série foi um estrondoso sucesso de audiências e rapidamente chegou a todo o globo, todavia só chegaria a Portugal de maneira acessível a todos, em Fevereiro de 2012 através da SIC, e devo confessar que me causa alguma estranheza uma serie deste calibre ser transmitida a horas que considero proibitivas... sim um sábado às duas da madrugada e num domingo pelos mesmos horários, não são no meu entender dignos de Downton Abbey. Felizmente, para alguns, aqueles que têm a sorte de possuir canais por cabo... contavam com a FoxLife que tinha já iniciado as transmissões da série em Outubro de 2011, ainda assim mais de um ano depois da sua estreia no Reino Unido.
A televisão não é boa nem má, depende do uso que se faça dela, acho que televisão deve ser um meio pelo qual as pessoas consigam retirar algum tipo de ensinamento, fazer reflexões e divertirem-se, acima de tudo divertirem-se, mas porque não juntar o últil ao agradável? É perfeitamente possível, rirmos, chorarmos, pensarmos e até aprendermos com um programa televisivo, se bem que nos dias que correm isso possa ser cada vez mais raro, mas no entanto Downton Abbey é um programa desse género.
A série criada por Julian Fellowes, é uma busca constante pelo retrato «histórico» da típica aristocracia britânica do início do século XX. Downton, é uma gigantesca propriedade que pertence há várias gerações à família Crawley, sendo o seu atual proprietário, Robert Crawley, conde de Grantham (Hugh Bonneville). A série começa com acontecimento duplamente trágico, trágico para milhares de pessoas que perderam as vidas no TITANIC em busca de uma vida melhor, e trágico para Robert Crawley pois perde o seu herdeiro que viajava a bordo do navio, um primo que ele pretendia ver casado com a sua filha mais velha Mary Crawley (Michelle Dockery), mas rapidamente nos esquecemos disso, pois em Downton os acontecimentos são vertiginosos e a esperança de não perder a propriedade por não ter um filho homem, volta para Robert quando este toma conhecimento da existência de um primo afastado, Mattew Crawley (Dan Stevens), Mattew é um jovem advogado que vive em Manchester e se vê assombrado pela perspetiva de uma vida «nova». Para Mary, o seu potencial noivo é demasiado classe média e para Violet Crawley, a condessa viúva (Maggie Smith), é simplesmente bizarro, uma vez que o individuo em questão usa termos que para ela são absolutamente desconhecidos e vêm de uma realidade um tanto ou quanto diferente daquilo a que está habituada. Para ela a ideia de fim de semana, não consta do seu dicionário ou falar-se de dinheiro à mesa é inconcebível, ora comparem com os dias de hoje…
No entanto apesar de todo este aparato familiar e todo glamour representado pela família rica que pouco mais tem que se preocupar do que em assegurar as suas possessões, e manter as aparências, o que mais me cativa em Downton é o facto de coexistirem num mesmo universo, duas realidades distintas que se encontram e desencontram no espaço físico, o gigantesco castelo onde todos habitam. São duas realidades paralelas: a parte Superior do Castelo (Upstairs), aqui os “senhores” levam a sua típica vida e costumes de nobreza, uma vida repleta de luxo e sumptuosidade; e a parte Inferior do Castelo (Downstairs), no andar inferior as coisas são bem diferentes, a «criadagem», aqueles que servem o andar superior laboram para o normal funcionamento de toda a gigantesca engrenagem que põe a casa a funcionar, o Mordomo, a Governanta, criadas pessoais, criadas de servir, lacaios, motorista, cozinheira, é este o universo deles e é aí que se sentem bem, tem até orgulho em servir quem servem como se fosse a sua verdadeira família.
Duas realidades diferentes, mas que quase que se tocam, pois a intriga, maledicência e os esquemas para de alguma forma atingir os fins pretendidos acontecem em ambos os andares. A principal diferença é que apesar de tudo, aqueles que não têm luxos e vivem com imensas apoquentações diárias preocupam-se com os que moram no andar de cima e para esses os de andar de baixo não passam de «invisíveis» que devem fazer o seu trabalho. Será?
A narrativa da serie é elegante, envolvente e cativante, disso não me restam muitas dúvidas, mas é a junção de ficção com factos ou acontecimentos históricos que lhe dá credibilidade, é exatamente isso que a torna tão especial, a possibilidade de como um acontecimento que supostamente é de conhecimento geral poder alterar o rumo dos personagens e de todo o enredo.
A série evoluiu e encontra-se agora em exibição, seis anos depois a 6ª temporada e última temporada. Muito se passou desde a narrativa que em 1912 tinha preocupações triviais, Downton enfrentou uma guerra mundial, evoluções no campo da medicina, a chegada da eletricidade e do telefone. Pode até cair em alguns estereótipos e clichés novelescos e tem defeitos como todas as séries, os vilões, os puritanos, os ricos, os pobres, os escândalos e as festas. Mas é inegável que a sua qualidade é acima da média. Tem um argumento muito bem elaborado, ótimos cenários e figurinos magnificamente executados. No que diz respeito à qualidade interpretativa dos atores envolvidos, confesso que o elenco é regular e homogéneo em relação à sua prestação, o destaque vai na minha opinião para Maggie Smith, a veterana atriz britânica tem um desempenho notável, «roubando» as cenas em que aparece, com uma personagem mordaz, engraçada e zelosa dos princípios da aristocracia vitoriana, tem das falas mais hilariantes e bem colocadas de toda a série.
A crescente popularidade que Downton assumiu fez com que atores e atrizes que são habitualmente associados ao cinema americano, participassem na série, são os casos de Shirley MacLaine, Paul Giamatti e George Clonney que participou num episódio especial de natal.
Se gostam de história, de intrigas e de um humor requintado esta é uma série para vocês, com seis temporadas têm muito com que se entreter!
Downton é sem qualquer dúvida uma série com História…